terça-feira, 28 de abril de 2009

NOVA SEÇÃO DE CULINÁRIA NA AGENDA CULTURAL DA PERIFERIA


Este mês de maio na 23ªedição de dois anos da Agenda Cultural da Periferia, estamos com uma nova seção de Culinária e já está na rede a programação cultural de maio 2009. Segue algumas fotos do Waldo Lao e textos do coordenador editorial: Eleilson Leite.



CASA DO NORTE SABOEIRO
Sabores e saberes do Ceará
No sertão do Inhamuns no Ceará tem uma árvore que se chama Sabonete e dela se faz sabão. A Cidade de Saboeiro, um dos mais antigos municípios cearenses, leva este nome devido à abundância daquela planta em suas terras. Foi em meio a esses arbustos que cresceu Francisco Elisiário Paulino, o Sr. Paulino.





Ele chegou em São Paulo em 1967, tornou-se garçom e nunca mais largou a profissão seja como dono ou como empregado de bares e restaurantes. Em 1994 ele se juntou com Miguel Gomes, paulistano, ex-vendedor de calçados e assumiram a Casa do Norte Saboeiro a eles vendida por um conterrâneo. Miguel, além de sócio tornou-se genro.



A referência à terra natal se traduz no cardápio de comida típica servida no almoço de segunda a sábado: caldo de mocotó, mocofava, cabrito, baião de dois (sob encomenda), jabá, torresmo, feijão de corda, fava e os destaques: sarapatel e buchada (foto). A culinária segue o padrão da cozinha do interior cearense. Inclusive a buchada é servida embrulhada e costurada no próprio bucho do bode cmo manda a tradição. Preparada assim, essa iguaria torna-se uma raridade que vale à pena conferir.

O preço médio dos pratos típicos é de R$ 9,00, exceto a buchada R$ 15,00 (serve até 3 pessoas) e a famosa feijoada a R$ 11,00. Há também um cardápio trivial bom e barato. No Saboeiro, um Comercial custa R$ 4,50. Lá também se encontra a saudosa Tubaina muito consumida no local.



Casa do Norte Saboeiro – Rua João Carlos Fortim, 46, Jd. Tremembé, São Paulo, Zona Norte, Segunda a sexta das 11h as 20h, sábados até as 18h, 60 lugares Aceita tikets, cheques e VR. Não trabalha com cartões de crédito. (11) 2952-5412.

Acessem: www.agendadaperiferia.org.br

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ORIKI PARA ELIZANDRA (MJIBA)

Foto: Waldo Lao

Rosa Zona Sul

Princesa Quilombo Azul

palavra-viga da quebrada

escrita em vida

entre Becos e Vielas

tece poemas na preta pele

porejam versos em nosso olhar


Menina-cantiga

em rima Aqualtune-Dandara

no Sarau da Cooperifa é guerreira majestosa

Nesse terreiro

de poetas

guerrilheiros

sonhadores

traga seu alguidar

cheio de poesia colorida e afiada

para o rubro retrato da periferia revolucionar


OUBÍ INAÊ KIBUKO, Publicado originalmente em Cadernos Negros 29, poemas afro-brasileiros, Edição Quilombhoje, 2006.

## Oubí, lembro de ter agradecido timidamente,mas adoro este poema. Foi uma supresa e uma homenagem muito especial pra mim. Agradecida.Abraços poeticos e perifericos.
Elizandra Souza

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Graça - Ana Paula dos Santos Risos


Qual a sua graça moça?

- A minha graça é uma desgraça sem fim

que talvez se perceba quando olhe pra mim.

Eu sou o lírio do campo de guerra.

De uma guerra semface.

Que se perde assim,

num sim e num não.

Numa chibata dolorida,

numa moça desconhecida.

Tratada como o óbvio.

Tratada como lógico.

Mas que de nada disso tem,

tratada como um relógio despertador,

que apanha todos os dias,

mas que não tem tempo.

Jogada ao vento,

por aqueles que são lentos,

Cabisbaixa, mas não se encaixa nesse perfil.

Não é conivente nem servil

Deixa nóis livre, deixa nóis livre.


Fonte: Livreto intitulado Ainda no Invisivél. Para adquirir entrar em contato com a Ana PAula. Apenas R$ 2,00.


celular: (011)9863-5533

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um Dedinho de Amor - De Elisa Lucinda






Mamãe tinha cinco filhos e um marido que amava, mas nunca associara amor de casamento com os frutos dessa união.


Não tinha um dedinho de consideração por nós. O Kiko ficou reprovado pela 2ª vez na mesma série, e ela disse apenas folheando o jornal: é novo, ano que vem passa.
Eu pequena, olhava aquela hereditariedade de desafeto, aqueles irmãos vindo antes de mim sem afago de mãe. Eu caçula, observava e pensava: qual será a escala para escalá-la? Nada. Era sempre uma mãe distante, mãe montanha, mãe gigante, mãe longe, não imbuída de nos amar, não incumbida dos mais naturais cuidados: merenda, beijo, histórias na hora de dormir, preocupações pentelhas – Não suba no muro, não caia daí!
Ai, era uma mãe extra mater. Parecia que estivéramos todos fora dela quando dentro. Até que um dia o irmão do meio adoeceu sinistramente na sexta e no domingo definitivamente nos deixou. Eu mal chorava. Tudo em mim eram olhos espantados de ver minha mãe assolada de uma ternura mórbida, porém ternuríssima, sobre o corpo: meu filho, meu amado, meu preferido, minha vida. Proferia ela amorosos impropérios destoantes do que eu entendia como real até então. Na dor da perda, minha mãe amava mais aquele filho do que a todos quando nasceram: filho meu, bendito filho meu, o que será de mim?
Compreendi que a culpa disparava nela um amor retroativo, forte, maravilhoso que, se não ressussitara meu irmão, tamanha sua força, em mim produzira uma extensa lavoura de esperança de afeto.
E fora assim desde então. Se algum adoecia, minha mãe fechava as portas dos jornais, da televisão, do marido, do mundo, pra ser só mãe daquele filho enfermo. Cabeceiras insones, histórias contadas até a febre se render, beijos longos que diziam: não me deixe amado, não me deixe.
E eu? Eu tinha era uma filha da puta de uma saúde que teimava em não me largar. Todo mundo lá em casa pegava gripe forte, porque ainda não existia dengue, pegava hepatite tipo analfabeta, porque ainda não havia classificação, caxumba, catapora e infecções sucessivas de garganta. E eu, boinha da silva! Me encostava em todos, me oferecia para cuidar; pequenina ainda, queria respirar o ar contaminado do sangue irmão. E nada. Ela mesmo dizia: essa não precisa de mim. E eu precisava.Então passei a perseguir acidentes naturais, árvores altas, bombas proibídas em São João, altas velocidades em carrinhos de rolimã, mãos perto demais das fogueiras, mas nenhum galho fraco era meu cúmplice, nenhuma bomba amiga minha, explodira, nenhuma ladeira era minha companheira, nenhuma chama minha irmã.
Um dia, tinha só cinco, fui na gráfica do meu pai. Pensei, vou machucar um pedacinho do meu dedo, vai doer, vai ter sangue, curativo, lágrimas de minha desejada mãe, alguma febre, choro meu, colo, colo, colo e, só depois, muito depois, conserto. Só que a máquina era lâmina e minha matemática, pouca. Calculei mal. Pus o mindinho na guilhotina e fechei os olhos pensando nos olhos de minha adorada mãe que eu ainda não havia experimentado acolhedores sobre mim. Eu era a última, a menorzinha, a despedida da prole, carregava a impressão de ter nascido e ouvido um adeus ao mesmo tempo. A máquina decepara meu dedo. Deixara apenas uma falange-cotoco primeira, uma base de dedo. Foi rápido. Sangue, muito mais sangue do que eu previa. Torpor. Meu pai desesperado trazido amparado pelos empregados eu não vi. Vi só minha mãe morrendo de dor pelo dedinho meu que perdi e que em mim não doía e nem fazia falta. - Minha filha, minha filhinha adorada, minha preferida, minha garotinha amada, mamãe tá aqui, tá doendo? Responde, tá doendo? E, eu mentindo: muito mamãe, muito. Mas, não doía nada. Se doía, o amor de minha mãe vindo assim em lufadas inéditas sobre mim que era um machucado só, estancava qualquer dor. Se confessasse, poderia perdê-la de novo. Então perdi um dedinho, um mísero dedinho pra ganhar uma mãe.
Fui crescendo feliz com mimo por aquela mãozinha manca. Na escola, no primeiro dia de aula, me divertia em enfiar essa falange vitoriosa no nariz para que a professora de estréia pensasse que havia todo o dedo dentro dele. Ela repreendia: o quê é isso Cristina? Tira o dedo do nariz! Que coisa feia, menina feia que você é. Vai se machucar assim. Então, eu tirava a falange mínima, quebrando a ilusão ótica no nariz da mestra. E ela: ô, desculpa querida, me perdoa, a titia não sabia...E olhava com olhos de se olhar com pena sobre os aleijados e muito arrependimento daquela gafe. Eu gostava da cena. Repeti isso por todo primeiro grau, a cada primeiro dia de aula. Era uma beleza.
Nunca mais perdi minha mãe. Nunca mais fiquei boa do dedo e nem ruim dele. Nunca quis ele de volta. Quem quis ele era a minha mãe. Por muito tempo, fiquei dando meus pedaços para ser amada. Agora não.Minha mãe ainda quer meu dedo de volta. Eu não quero mais nada. Tenho mãe. Dar um dedinho por uma mãe é muito pouco. Antes de mim, ela não tinha um dedinho de consideração por ninguém dos filhos. Agora tem.






Este texto foi publicado no livro Conto de Vista, Elisa Lucinda.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Menina - Maria Tereza


Jovem negra

muitíssimo bem acompanhada

na boa sorte,

amor incondicional

sonho em forma de sonho

asas negras que voavam de verdade

borboletas multiplicadas com toque bom

dedicação na música missão

fluindo inteligência natural

e o mundo era grande

absurdo tão fabuloso e surpreendente

horizontes de planícies a serem percorridas

vibrações musicais elétricas

no baixo preto que tocava


### Maria Tereza, poeta, cantora, atriz. Tem publicado dois livros Ruidos, 2004 e Negrices em Flor, 2007, no qual este poema acima foi publicado.

Mais informações:


sexta-feira, 10 de abril de 2009

Este conto do Rodrigo Ciriaco deveria se chamar " Um por amor, dois pelos livros", mas chama-se A QUEDA



Acho melhor a gente voltar quando não tiver ninguém. Vamo chegá, mete o pé na porta, solta os cara e sair.


Cê tá louco Querô? Cheiro cola e comeu a lata? Já viu o tanto de chave e cadeado que tem, essa grade no portão. Cê acha que vai estourá com esse seu pezinho.


Aí, tá me tirando Baleia?


Êh, vamo pará com a treta aí. O negócio aqui é sério. A gente já tem todo o esquema traçado Querô. Cês deram um rolê pelo pavilhão?


É, naquelas né Pedro. Aquele véio fica de marcação. Mas conseguimo fazê uma lista de cada cela.


Passa aê, deix’eu ver: Mendes, Rosa, Drummond. Hum, João Cabral, Vaz, Bandeira, Sacolinha, he, he, esse é dos bom. Mas, só tem homi aqui mano?


Você nunca foi numa cadeia jão. Lá num tem essas coisa de homem com mulher não.


Caraiô, mas cê é burro pra cacete hein Querô.


Tô te avisando Baleia, vô te cobrir de sôco.


Ô, ô, ô, vocês são duas bichinhas mêmo hein. Só ficam brigando. O Baleia tá certo Querô, isso aqui é a Revolução, num lembra? A gente vai incendiá a Bastilha. E aqui não tem essa separação não. Acrescenta aí: Clarice, Dinha, Lygia, Cecília, Elizandra.


Mano, num vai dar pra levá todo mundo. E o Veríssimo, o Vinícius. O Plínio cara!


Infelizmente alguns vão ter que ficar. É como dizia a minha avó: vão-se as mãos, ficam os dedos.


Nóóóóóssa, que viagem jão!


Trocou tudo o Pedro, há há há há.


Xiiiiiiiiiiii!


Aí, vamo falá mais baixo que o Alemão tá de marcação. Querô, repassando o plano.


Tá, cada um pega a touca e vai prum corredor.


Certo.


O Baleia vai latir.


Isso, e aê?


Êh, eu sei do baguio mano. Pergunta pra ele agora.


Fala aí cadela.


Tá forgado hein Bala. A gente começa a tirar os livros, você assobia, dá o grito e a gente responde em coro.


E sai correndo.


Não, fica esperando o tiozinho pegá nóis. Moscão.


Então é isso rapá. É tudo nosso! Sem afobação, sem nervosismo. Chegou a nossa vez. Cês foram escolhido a grão. Isso num é pra qualquer um não. A gente vai ficá na história da escola. Na humildade, na malandragem. Sem pagá simpatia. Um por amor, dois pelos livros.


Um por amor, dois pelos livros!


Xiiiiiiiiiiiii! Silêncio.


Vai, vai, vai. Cada um pro seu corredor.


Meninos, vocês já sabem: um de cada vez, por favor.


Au, au, au. Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.


Vamos calar a boca Rogério? Maicon, posso saber onde você pensa que vai com essa pilha de livros. Parece que não conhece as regras. Ermeson, Ermeson! O quê é isso? Desce já dessa mesa.


Eu sou Pedro Bala, descendente de Zumbi. Irmão de Lima Barreto, neto de Lampião. Isso aqui é a Revolução Alemão. Livros são pra mexer!


Livros são pra mexer! Êêêêêê...


Seus estrupícios, vamos parar com essa bagunça. Vocês estão na Biblioteca! Ei, ei, vocês não podem sair com esses livros não. Volta, devolve aqui seus moleques!


Corre, corre, corre.


Ô Direção!


Publicado no livro TE PEGO LÁ FORA, Rodrigo Ciriaco, 2008, Edições Toró.

Saiba mais:


http://www.edicoestoro.net

####Já falei para o Rodrigo que amei este conto, na verdade o livro inteiro, mas este em especial, não porque sou citada, mas pelo que ele representa, estamos sempre tendo que saquear bens culturais, quem ama muito precisa fazer sacrificios, lembro que uma vez queria dar de presente um livro, mas eu era novinha e não trabalha, ainda estava no ensino médio, tive que ficar quase uns dois meses sem lanche para comprar um livro do Malcolm. Faz parte...risos.
Meus leitores vão estranhar a publicação deste conto, pois me propus a publicar textos de mulheres, mas este é universal...risos..
Beijos, Rodrigo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Que ansiedade, Dexter!!!

Foto: Marques Rebelo

Que ansiedade! Fiquei feliz de vê-lo de relance. Que sensação boa, vê-lo bem.Acredito que a melhor sensação é ver as pessoas que amamos e admiramos bem.
Queria ter me aproximado, mas como fã paralitica, me contento olhar de longe e ver que está bem.
Sábado, dia 11 de abril de 2009, o dia que a terra vai tremer e rap nacional esquentar....
Dexter..." A Fúria negra ressucita outra vez"
Axé, irmão.
Tamo juntos.

Recitais Edições Toró

Sinta a sonoridade do Akins.....


Ouça a intensidade dos meus versos....


O site da Edições Toró está disponibilizando para ouvidos sensíveis aos versos, re-versos, poesias sonoras, eu e o Akins fomos os primeiros a participar, com versos do Punga e poemas inéditos.

http://www.edicoestoro.net/recitais/elizandra-souza.html

Aproveite e conheça o site por inteiro, nele está disponivél todos os livros, com direito a degustação, na maioria dos livros mais de 30 páginas podem ser desfrutadas, lidas e olhadas...Também está disponivél entrevistas com pessoas importantes da nossa cultura de periferia, programa literatura nas ruas, com diversos autores negros, latinos, nordestinos, africanos...navegue...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Negro Tom - Luciana Dias



Insisto em frequentar
Bibliotecas, livrarias
Comissões, delegações
Teatros, Museus
Festivais, Universidades
Antigas salas de estar

Passo a catraca
E não sou mais invisível
Elemento suspeito
Fora de lugar

Você trabalha aqui?
Uniforme invisível?
Origem, marca, cor

Simples presença
Causa desconforto
Ameaça poderes
O que era velado aparece

Sinto na pele
A faço presente
Peles negras
Máscaras brancas
Já dizia Fanon

Aos poucos tomamos a casa grande
Aos poucos tomamos os lugares de poder
Aos poucos te ensino a me ver
Sem sua máscara, como sou

Imponho minha presença
Provoco discussão
Reivindico o que é meu de direito
Não passo em branco

Mudo o Tom
Do discurso
Dos bacharéis
Da literatura
Do cinema
Da Graduação

Tudo modificado
Com o negro tom


***Lú, este poema..ainda é exceção, mas devagarinho estamos re-conquistando nossos espaços...

valeu pelos versos..por falar de mim...assim..como se eu mesma tivesse escrito.

Entrevista no blog do Tubarão

Esta semana, depois de enrolar o Tubarão por mais de um mês, era para ter sido enviada em março, mas acabou não dando. Quem tiver um tempinho para conferir a entrevista vale a pena.

Clique Aqui e navegue no blog que também é muito bom.

Abraços poeticos

Elizandra Souza

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Plano de vôo - Lúcia Helena

Foto: Waldo Lao
Quando eu morrer, todas as cartas,
(quem ainda souber escrevê-las),
devem ir para Saturno. Lá, fazendo footing
nos anéis, finalmente, virarei estrela.

Quando eu morrer, os enlouquecidos e-mails
devem seguir para saturno.livre.lhc,
com site para todos os amigos e amantes...
Você duvida... Mas é assim que vai ser.

Quando eu morrer, todas saudades,
todas as queixas devem ser dirigidas a Saturno,
(E também a lembrança, se ainda restar de mim a tua.
E essa, eu terei, sim, muito prazer em recebê-la.)

Quando eu morrer, meu bem, vou morar em Saturno...
Dizem que lá, hoje, acharam até outra lua...
A passeio, nos anéis, pensarei em ti, ao vê-la.
E é de lá que vou te piscar o meu olhar de estrela.


por Lucia Helena Corrêa, São Paulo, março de 2009.